No último dia 13, o brasiliense Caio Bonfim conquistou uma medalha inédita para o Brasil na Marcha Atlética. O bronze, conquistado no Mundial de atletismo em Londres, é fruto de uma carreira brilhante em um esporte de popularidade muito baixa no Brasil. Entrevistamos o atleta de 26 anos após esse ótimo resultado. Confira alguns trechos do bate-papo.
INFÂNCIA
"Sou apaixonado pela minha cidade, e como sou atleta acabo
viajando muito e ficando distante dos meus familiares e amigos, fato que só faz
crescer o meu amor por Sobradinho e por Brasília. Nasci uma criança saudável,
normal. Até que com alguns meses de vida "peguei" uma meningite, todo
mundo aqui sabe o quão grave essa doença é. Logo que comecei a andar,
misteriosamente, minhas pernas começaram a entortar, preocupada com a situação
minha mãe me levou ao médico e o mesmo disse que o caso só se resolveria com
cirurgia e que eu teria que repetir essa cirurgia constantemente, pois minhas
pernas iriam entornar novamente, mal sabia ele do plano de Deus na minha vida.
Fiz a cirurgia e fiquei um tempão com gesso nas pernas, as pessoas diziam que
nem o gesso me parava (rs). Por fim, retirei o gesso e pude ter uma vida
normal, não precisei fazer outras cirurgias, pois contrariando o prognóstico as
pernas não entortaram. Cresci, virei jogador de futebol e aos 16 anos fiz meu
primeiro teste na marcha atlética, e já de cara me apaixonei. Quando completei
18 anos os médicos pediram para que eu voltasse no consultório para fazer uma
nova avaliação, já que eu já tinha atingido a maturidade óssea. Chegando ao consultório,
contamos ao médico que eu havia me tornado um atleta, e ele ironicamente riu e
falou : "mas eu não te fiz pra ser um atleta, fiz pra ser no máximo
jogador de dominó " , mas uma vez, mal sabia ele dos planos de Deus na
minha vida. Refiz todos os exames e logo mais veio ele, maravilhado com os
resultados. E surpreso disse: “É, o milagre foi realmente grande, o seu corpo é
totalmente adaptado para o seu esporte”.
FAMÍLIA: MAIORES INCENTIVADORES DA CARREIRA
“Descobri a Marcha Atlética através dos meus pais. Minha mãe
foi marchadora e isso acabou por influenciar minha carreira. Fiz alguns testes,
fui evoluindo e me adaptando melhor ao estilo da Marcha e hoje sou apaixonado
por essa modalidade e seguimos na batalha até hoje. Meus pais são os meus incentivadores,
sem eles essa história não teria acontecido. Tive o prazer de ser treinado pelo
meu pai e ter minha mãe como referencia, via o quanto ela amava e se dedicava
ao esporte, mesmo diante de tanto preconceito e dificuldades. Meus ídolos no
esporte são Peyton Menning, Ayrton Senna e Roger Federer. Busco aliar a
inteligência e liderança do Menning com a personalidade do Ayrton e a humildade
do Federer.”
PRECONCEITOS E
DIFICULDADES DA MARCHA ATLÉTICA
“Após o Rio 2016 e do desabafo que fiz, pude perceber e
sentir uma grande diferença no tratamento comigo e com a Marcha em um todo. O
que antes eram piadas e preconceito acabou virando apoio e reconhecimento. E, é
muito gratificante poder fazer parte disso, saber que você fez parte da mudança
de comportamento da sociedade para com o seu esporte. Essa mudança de
tratamento das pessoas é uma das minhas maiores vitórias da carreira.”
O RIO 2016
"Não tenho palavras para descrever como é competir uma
Olímpiada, defender o seu país, ainda mais em casa, perto de amigos e
familiares. No Rio, fiquei em quarto lugar, mas aquela posição tem o mesmo
valor que o bronze que acabei de conquistar em Londres. Tudo foi muito especial
desde o primeiro dia, da festa de abertura. Ficou um gostinho de “quero mais”
pois cheguei muito perto de um pódio em casa numa Olimpíada superando grandes
nomes da Marcha. Guardarei lembranças de tudo que vivi no Rio 2016."
APOIO E PATROCÍNIO
APÓS O RIO 2016
"A questão de patrocínio é muito difícil.. A iniciativa
privada no Brasil, principalmente em Brasília, é muito complicada. Sendo assim,
conseguimos, ainda, pouco apoio em relação aos outros esportes. Mas, sou muito
grato ao governo de Brasília que me ajuda bastante, facilitando a minha ida a
diversos torneios ao redor do mundo. Mas, ainda temos muito o que melhorar na
questão de apoio, não queremos ficar ricos igual ao Neymar, mas buscar
melhorias e condições favoráveis para a Marcha crescer a cada dia mais no
Brasil."
A MEDALHA EM LONDRES
"Eu sempre brinco que não gosto de criar/estipular metas nas
minhas competições, prefiro acreditar na esperança. Quando criamos muitas
expectativas, se algo der errado, a cobrança vem muito grande e acabam por
esquecer o que já fazemos pelo esporte. Cheguei em Londres, buscando dar o meu
melhor nos treinamentos e me manter focado para conseguir um bom resultado.
Graças a Deus, todo o meu esforço e treinamento foram recompensados e consegui
uma medalha inédita para o Brasil na Marcha."
O PÓS-MEDALHA E AS
RESPONSABILIDADES
"Sei muito bem que as cobranças e responsabilidades vão aumentar muito depois do meu resultado em Londres. Agora, é me manter firme e forte nos treinamentos e sempre buscar crescer. O meu resultado, me deixa ainda mais feliz por fazer a popularidade da Marcha crescer. Eu e minha família amamos a Marcha e fazer parte desse crescimento no Brasil me deixa muito realizado. A luta não acabou, vamos comemorar essa medalha, mas seguimos na luta para conseguir ótimos resultados e chegar forte em Tóquio, pra quem sabe beliscar algo melhor."
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